28 de jan. de 2013

O Vigia



O homem com as duas mãos agarradas ao portão de grades azuis, as minhas agarradas ao volante. 
No vidro os pingos fortes da chuvarada que cai. 
Um dia cinza refrigerando a alma nesta terra tão quente. Notícias amargas de um domingo reflexivo.
A imagem do homem está lá.  
Passará seu domingo ali, sozinho, com seus pensamentos. 
Um carro para, o homem se levanta, o carro vai, nenhum movimento em sua direção. 
Retorna a seu posto. 
Senta-se olhando o nada.
 Levanta-se ao surgir novo carro, espreita, espera, o carro vai, volta o homem a se sentar, as mãos agarram a grade azul como num abraço inanimado.
Outro carro. Os movimentos se repetem.
Continuo a poucos metros, parada, indecisa. 
Esqueço o rumo que decidira tomar.
Observo o movimento lento a cada carro que entra no recuo para fazer retorno à cidade.
Quem sabe alguém parasse a se informar, quiçá alguém necessitando ajuda? Isso aliviaria a tensão daqueles braços agarrados à grade...
A visão da chuva caindo, o homem sempre pronto a atender, ninguém para. 
Outros carros em movimento, tudo me faz retornar, passo devagar pelo homem que se levanta, agarra-se à grade, sempre a olhar. 
Expectativas de romper o silêncio. 
Sigo. 
O vejo e me vejo através do espelho. Ele mira. Silenciosos.
A velocidade aumenta, admiro a chuva que agora é mansa.
Faço meu caminho de volta com o pensamento na expectativa solitária do vigia.
Ao retornar para os seus vai encontrar seu espaço, seu lugar, sua forma de viver, continuará silencioso acostumado àquele silêncio interior.