Quando criança, com os olhos brilhando vislumbrava a coleção dos maiores filósofos do mundo na estante cerrada com portas de vidro, estante proibida, só havia permissão para ler os da estante lateral, esta era a estante dos sonhos e fantasias, livros que lia atentamente numa tarde, no quarto do meio, daquela casa envolta em arvores.
Até algum tempo, não distante, ainda se questionava por não tê-los lido, e pensava em quantos deixará de ler. Tentou resgatá-los, enfim, não se sabe os motivos de não os ter lido. Passaram-se dias, meses e anos entre tantos contados, 14, 20, 30, ou mais.
Amanheceu, correu o dia, os minutos se transformaram em longas horas, alçou seu voo, contemplou um pôr de sol exuberante a 80, 100, 120 km, dando rasantes e cortando o vento nas curvas, apreciando montanhas e nuvens.
Veio a lua, coloriu de prata seu céu, desejando fazer crer que depois o mundo fica azul ou da cor que se quiser pintar. Os minutos se transformaram novamente em longas horas, e em meio a estrelas e luzes urbanas a intrigante lua se tornou pequena, insignificante.
Saltou-lhe aos olhos o real.
Uma tempestade de idéias que a faz girar.
Seu voo agora é gelado, e numa febre repentina surgem asas de fogo.
Num espaço sombrio, não mais tendo a nítida visão, tanto faz ser iceberg ou vulcão incandescente, fraquejaram embaralhados os sentidos, sinais confusos forçaram pegar a indevida rota.
A Intuição, eterna companheira, agora segue desordenada em um circuito fechado, não é mais seu absoluto socorro.
O improvável lhe paralisa as asas que docemente cortavam seu céu. Foi de um extremo a outro, sem tocar seu chão, seu porto.
Na espiral do silencio. Emudeceu.
Ali estava com sua outra parte que havia se apartado há tempo. A parte que só vive se alimentada de extremos. A parte que já não mais almejava. Sua metade enjaulada.
Os livros que outrora ansiava voaram à sua frente, páginas arrancadas ao vento colorindo de branco o negro céu, feito pequenos balões entre capas prateadas lançadas umas contra as outras. Não os aspira mais!
Abraçará sua parte de extremos, arriscará seus caminhos tortos, conviverá com o enigma das escolhas arriscadas. Captura sua parte extremada bem no centro, não a perderá, mas a enlouquecerá por dar-lhe visão, por retirar-lhe a flor da pele onde se expõe.
Desperta do seu mundo de extremos desvairados.
Agora será meio!...Sem certezas.
Meio e ponto! Meio quente; meio frio; meio ar; meio vento; meio sol; meio lua...
Será assim... Meio morte, meio vida!
LStz
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