Hoje os carteiros deveriam ser chamados correspondenteiros. Bateu uma vontade ter um carteiro na porta. Um carteiro daqueles que batia palmas e gritava no portão: "Carteeeeerooooooo...."
Nessa hora sempre corríamos pra saber a novidade que continha naquele envelope de bordas listradas, era sempre os de listinhas azuis e vermelhas, que não sabíamos o que significava, que traziam maior alegria, corria de mão em mão, dos adultos, é lógico, pra família toda ler. Havia a certeza de que quem escrevera estava bem e perdera um saboroso tempo desenhando para que a letra estivesse mais perfeita possível, só para agradar, para transmitir o carinho expresso em palavras de tinta em papel.
Parecia até que tinha som! É um dia que tem essência e aguça o olfato, lembrança viva de dia alegre.
Já escrevi cartas e ansiava a resposta demorada, meus envelopes eram de listinhas verdes e amarelas, ou era branquinho sem listas com algum desenho bonitinho, meu papel, como aprendi, deveria ser delicado, branquinho. Ah! Eu sempre adorei papeis de cartas bem finos. Também já prometi enviar carta que nunca foi postada. Decepcionei!
De uns tempos pra cá ando confusa, tem um clicar de dedos que me faz esquecer que um dia usei lápis, papel ou caneta. Neurose? Talvez! Disfarces da tecnologia que não me deixam mais pensar? Não sei.
É um silêncio que vem, e que vai. Sem lugar de partida, sem saber onde é a chegada. Pode ser norte, pode ser sul. E quando se faz uma pergunta! Não sei se a resposta é uma fala, ou somente uma escrita. Mecânica, tecnológica.
Ando mesmo preocupada!
Estou desaprendendo de falar, e assim penso que talvez desaprenda de ouvir.
Nesse silêncio interno de palavras rápidas que vão e que vem em minutos, começo a reaprender a escrever. E os gritos externos pouco a pouco vão impregnando meu papel digital.
Na minha inquietude onde a falta de som é pressão, a dádiva divina da fala se oculta, minhas palavras tem formas constantes, só mudando cores de fundo conforme a estação.
Sem saber o paradeiro de meu devaneio tecnológico, arquivei palavras, vindas de onde não sei. Amanheceu... Sufoco a paz rompida, as palavras arquivadas... devastei com sabor de ácido e sal.
LStz