Por vezes acordo no meio da noite e me ponho a escrever. Às vezes é só uma frase que surge do nada, avulsa, sem sentido aparente. Outras vezes são ideias, pensamentos completos. Há noites em que chego a preencher folhas inteiras, o raciocínio flui velozmente, sem autodomínio. Hoje, já durmo com papel e caneta no travesseiro ao lado.
Não quero ser surpreendida por esta compulsão, que me arrebata nas madrugadas, me forçando a sonambular pela casa em busca de local para depositar o conteúdo do meu pensamento que, aos borbotões, emerge do meu inconsciente. Isso começou quando eu era, ainda, uma adolescente.
Lembro que a primeira vez que isso me aconteceu, eu devia ter uns quatorze anos, por aí. Interessante é que não se tratava de um texto. Era o desenho de um pergaminho, com as pontinhas enroladas e tudo. Daqueles que o mensageiro do rei usava, para levar mensagens de um canto ao outro do reino, lembra? Foi assim que tudo começou.
Não levei muito a sério. Na época achei o máximo descobrir como se desenhava um pergaminho. Houve um tempo que cheguei a pensar que não era eu quem escrevia, achava esquisito ter esses lampejos noturnos, mas acabei me acostumando. Escrevo mesmo no escuro, em linhas tortas, com letras garranchadas.
No princípio só falava sobre isso em casa com os mais próximos. Hoje, não temo mais que me considerem “diferente”. Na verdade, não sei bem o que entendem por diferente. Tão bonzinhos!...
É bem verdade que nunca ouvi alguém dizer que tem sintomas semelhantes aos meus, mas de uma coisa estou certa, não se trata de nenhuma patologia. Até me sinto muito bem quando isso acontece e só tomo conhecimento, de fato, do conteúdo do que escrevi, quando acordo pela manhã.
A maioria desses escritos acaba mesmo é na lata do lixo.
Não sou aquilo que se pode chamar de uma pessoa organizada, pelo contrário. Sonho em ter uma secretária que passe os dias ao meu lado, recolhendo minhas ideias, meus pensamentos, minhas frases, minhas palavras e que depois organize tudo e me entregue digitado e salvo em um pen drive.
21/05/2012 Maria Regina Torres
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